A PINTURA FIGURATIVA ESTÁ ULTRAPASSADA ...
ISTO ACONTECE COM TODAS AS EXPRESSÕES DE ARTE ...
A MÚSICA MELODIOSA DEU LUGAR A OUTRAS FORMAS MUSICAIS ...
UM MOVIMENTO SOCIAL PROFUNDO ...
UM MOVIMENTO DE DESCONSTRUÇÃO ...
ETERNAS !
A ARTE É UMA LINGUAGEM UNIVERSAL COMO TODAS AS EXPRESSÕES ARTÍSTICAS .
Não gosto de pintura figurativa, prefiro a pintura abstrata. A pintura figurativa já não se usa, está ultrapassada...– Pois eu prefiro a figurativa. Na pintura abstrata a gente nem percebe o que lá está... Quem nos garante que não é uma fraude?Há alguém que ainda não tenha ouvido um diálogo deste género?Acontece que este fenómeno não diz respeito apenas à pintura. Na música verifica-se o mesmo. Até aos anos 60 falava-se muito em ‘melodia’. A melodia era o que tornava uma música mais ou menos agradável ao ouvido, o que lhe conferia harmonia, equilíbrio, fluidez.Hoje a palavra ‘melodia’ caiu em desuso, porque o próprio conceito desapareceu entre os que fazem opinião. A música ‘melodiosa’ deu lugar a outras formas musicais, como a música ‘concreta’, que equivale à pintura abstracta: não tem tema, é um ‘amontoado’ de notas, exactamente como a pintura abstracta é um ‘amontoado’ de cores. E a propósito do jazz ou mesmo do rock também não faz qualquer sentido falar em melodia: a música tornou-se muito mais imediatista, deixando de ter a preocupação de ser harmoniosa ou agradável.
E na literatura passa-se o mesmo. Os romances, antes, tinham aquilo a que se chamava ‘trama’ ou ‘enredo’. Ora isso também passou de moda. Hoje a literatura mais celebrada pela crítica é a que assenta em combinações de palavras que não visam contar uma história mas criar certas sensações estéticas. O leitor é preso não pelo enredo mas pelo envolvimento ‘literário’ que o livro vai criando.E até a arte mais ‘realista’ por natureza – o cinema – seguiu o caminho da ‘abstracção’, com abundantes exemplos no chamado ‘filme de autor’ europeu, com as fitas de Bergman, Godard ou Resnais. Este movimento seria travado, como se sabe, pela invasão da Europa pelo cinema americano, de tradição realista e concreta.
Curiosamente, a questão do real e do abstracto na arte, foi uma das primeiras que tratei nos jornais. E com isso ganhei os primeiros 500 escudos – que era o valor do Prémio Fósforo Ferrero, um prémio literário e artístico instituído pelo Diário de Lisboa – Juvenil, dirigido por Mário Castrim. Ainda hoje recordo esse texto, que defendia a ideia de que Turner era o último pintor clássico e o primeiro pintor moderno. Porquê? Era um pintor clássico visto ser realista: pintava o que via. Mas, na medida em que pintava obsessivamente o mar – o mar revolto, as ondas, a rebentação, com a água a desfazer-se em espuma –, era o primeiro pintor moderno, já que as ondas não têm formas estáticas e definidas, antes se desconstroem, e nessa medida permitem todo o género de liberdades e abstracções. Clássico porque pintava a natureza, moderno porque pintava uma natureza ‘informe’ e em movimento – assim se me apresentava (e ainda apresenta) William Turner.
Trinta e tal anos depois de ter escrito esse texto continuo basicamente a pensar o mesmo – só que percebi que o conceito de abstracto se aplica a todas as artes e não só à pintura.Claro que ainda há escritores que contam histórias, como há pintores que fazem quadros figurativos, como há músicos que fazem músicas melódicas. O nosso maior escritor de sempre segundo a Academia Sueca, José Saramago, escreve romances com histórias dentro. E um dos nossos maiores pintores vivos, Júlio Pomar, pinta quadros figurativos – embora por vezes se note nele a vontade de destruir as formas –, o mesmo acontecendo com Paula Rego.Mas já Vieira da Silva transpôs a fronteira do abstracto e o nosso mais celebrado músico, Emmanuel Nunes, compõe sem grande preocupação pela melodia.De qualquer forma – e apesar de a discussão estar longe de terminada – quem hoje se pronuncia a favor da arte figurativa é considerado old fashion ou pouco versado em questões artísticas.
Quando, em fins da década de 60, eu frequentava a Escola de Belas-Artes de Lisboa, ao fundo da Rua Ivens, o meu colega Pedro Botelho, neto do pintor Carlos Botelho, deu-me uma lição sobre a arte abstracta que nunca mais esqueci.Explicava ele: a arte figurativa, quando quer representar um beijo, põe duas pessoas a beijarem-se. Como n’ O Beijo, de Rodin – um grupo escultórico formado por dois corpos nus enlaçados, um homem e uma mulher, que se beijam nos lábios. Mas – continuava ele – na pintura abstracta, quando se quer representar um beijo, não se representam as pessoas que se beijam: representa-se o beijo em si. Aquilo que vemos na tela não são duas pessoas a beijarem-se: o que lá está é o próprio beijo.Isto, hoje, para alguém versado em arte, parece uma banalidade. Mas a um jovem estudante de Belas-Artes surgiu como uma explicação luminosa. A ponto de nunca mais a ter esquecido.
Certas pessoas mais apressadas relacionam o fim da pintura figurativa (e o correspondente nascimento da pintura abstracta) com a descoberta da fotografia. E argumentam: – A partir do momento em que se descobre a fotografia, a pintura figurativa perde todo o interesse – porque as fotografias são muito mais fiéis do que os quadros. A partir daí, a pintura tinha de seguir outro caminho.Ora as coisas não são tão fáceis como parecem. Porque, como já vimos, o fenómeno não se verifica apenas na pintura – verifica-se na literatura, na música, na escultura, no cinema... e, mais recentemente, na própria fotografia! Ou seja, as fotografias que, segundo os crédulos, teriam vindo substituir a pintura, tornaram-se elas mesmas abstractas! As fotos que hoje figuram em muitas colecções de fotografia são de leitura difícil, retratam objectos ou corpos em movimento, parcelas da realidade que, por demasiado pequenas ou demasiado grandes, deixaram de ser compreensíveis – numa palavra, tornaram-se abstractas. Quem diria que a fotografia, por natureza realista, seguiria o mesmo caminho abstractizante da pintura?
Isto mostra que o abandono do real no sentido do abstracto corresponde a um movimento da nossa época. Um movimento social profundo. Um movimento de ‘desconstrução’. Um movimento de rejeição. Repare-se que, para lá da recusa do real, se verifica uma vontade de retrocesso – como se a época que vivemos fosse incómoda e houvesse necessidade de lhe fugir. Certas fases de Picasso ou Matisse remetem abertamente para a arte africana, distanciando-se provocadoramente da grande pintura clássica de Rubens, Velásquez ou Rembrandt. E a batida de muitas músicas contemporâneas confunde-se com os batuques indígenas, colocando a anos-luz as obras de Mozart ou as sinfonias de Beethoven.Objectivamente, trata-se de retrocessos, de recuos na civilização. Que a meu ver caracterizam um tempo de decadência. Este horror das artes ao real, esta fuga, esta atracção por formas puramente abstractas, este abandono dos cânones clássicos a favor de expressões primitivas – tudo isto são sintomas de decadência civilizacional.Ou, pelo menos, sinais de uma época de transição.Mas é esta a nossa época. E manda o bom senso não renegarmos o tempo em que vivemos.
Publicação: Saturday, June 02, 2007 9:00 AM por JAS
Comentários
Tuesday, June 05, 2007 12:03 PM by surpreso
# re: Um tempo de decadência
Eu tambem tenho dificuldade em distinguir o contemporâneo,para além de "bonito" ou "feio".Na pintura e na escultura ,o acabamento e os materiais são tambem fundamentais,já que se vende muito gato por lebre,para satisfazer clientelas ignorantes,mas com dinheiro.A explicaçaõ é a de que os "clássicos" chegaram a mim ,filtrados pela opinião de séculos.Aprender a apreciá-los fez parte da minha educação.Quanto à musica,a que sou particularmente sensível ,o desastre é total.Pergunto por que tendo sido já escrita a mais importante música, se insiste no absurdo? Só a suporto, imaginando que são musicas de fundo de filmes de desenho animado.Mas, onde o Tom e o Jerry nunca se encontram..
Tuesday, June 05, 2007 4:06 PM by arturfranco
# re: Um tempo de decadência
nunca na vida poderemos evocar que a pintura figurativa ou impressionista, entrará em decadencia. É como a música de Mozart ou Bethoven, e, outros, ela é, e, sempre será eterna. Os Silva Porto, os grandes retratos de Columbano, os Monet, os Van Gogh, Picasso (período azul e rosa)etc, é e serão sempre um eterno. A pintura é um estado de alma hoje e sempre, mesmo havendo a fotografia do momento, a pintura tem que ser lá no local, naquela hora,por norma ao raiar da aurora ou ao entardecer, quando as sombras são mais rasgadas e dão-nos o contraste mais alargado do claro escuro.Admiro muito Pomar, aquele retrato de Mário Soares, ele sai e vem até nós, até percebemos o que ele quer dizer, soberbo. Paula Rego pintura muito fria e temerosa, onde as suas figuras mexem connosco, conta-nos algo na realidade, mas... admiro muito mais a Graça Morais. Sobre a explicação que recebeu sobre a pintura do "beijo" no de Rodin são duas figuras que se entrelaçam num beijo profundo, e no abstracto nada disso acontece, só se vê o beijo simplesmente. Gostaria de ver esse quadro, desconheço, ele só tem o beijo? Como conseguiu pintar esse momento, sem um lábio, sem um rosto, com um olhar fechado mas aberto na alma, como pode transmitir isso, interrogo-me, ou a pessoa que o fez depois de olhar para aquilo, lembrou-se de dizer olha parece-me um beijo, boa, vai ser o BEIJO. A decadencia tem déstas coisas...
Wednesday, June 06, 2007 5:07 PM by ramodebarro
# re: Um tempo de decadência
Sou adepto dos chamados clássicos mas também apreciso os modernismos em todos os matizes. A qualidade existe, preciso é saber apreciá-la e vislumbrá-la nos interstícios, nos pormenores.
Há pintura e até literatura abstracta que rivaliza com os mais abalizados clássicos.
Na música, é preciso saber ouvir e "digeri-la"...
A arte é-o em função do destinatário, também.
Monday, June 11, 2007 12:00 PM by FernandaValente
# re: Um tempo de decadência
Temos que considerar que as várias expressões artísticas desde que as conhecemos até aos nossos dias, são a expressão viva das emoções e estados de espírito vividos pelo autor que, por sua vez, se interligam com as próprias emoções experimentadas pelo receptor, pela pessoa que as observa, que as consome. É a partir dessa "simbiose", entre autor e receptor, que a obra ganha vida do ponto de vista substantivo, através do movimento, da musicalidade, da cor, da forma.
Dizer-se que a pintura abstrata faz parte de uma época em decadência é bastante redutor. Esta expressão artística é sobretudo ininteligível para a maior parte do comum dos mortais, porque criada em épocas histórica e socialmente conturbadas, reflecte, através do autor, a decadência, não dos movimentos artísticos propriamente ditos, mas da sociedade, das instituições, dos valores, da ética e da estética, referente ao período em que é concebida. Nesse sentido, poder-se-à dizer que a arte abstrata é uma arte superior, por comparação à arte figurativa que se limita a representar o que vê, mas que não ultrapassa a dimensão humana, do ponto de vista tempo e espaço. Aquela forma de expressão é concebida de fora para dentro, toca o nosso imaginário, mexe com a nossa capacidade em apreender o real no plano do intelecto. (Pollock vai mais além, dando uma dimensão universalista à sua obra, refugiando-se nas fórmulas matemáticas, arrastando-a para o plano científico da interpretação).
No entanto, continuaremos a adorar os clássicos pelo modo simplista com que tocam o nosso coração e conseguem conviver connosco no dia-a-dia, iluminando os nossos piores momentos, e exultando de alegria naqueles mais raros que traduzem felicidade.
Pesquisa Internet__português de Portugal_07.07.2007
ISTO ACONTECE COM TODAS AS EXPRESSÕES DE ARTE ...
A MÚSICA MELODIOSA DEU LUGAR A OUTRAS FORMAS MUSICAIS ...
UM MOVIMENTO SOCIAL PROFUNDO ...
UM MOVIMENTO DE DESCONSTRUÇÃO ...
NUNCA PODEREMOS EVOCAR QUE A PINTURA IMPRESSIONISTA OU FIGURATIVA ENTRARÃO EM DECADÊNCIA ...
É COMO AS OBRAS DE MOZART OU BEETHOVEM SÃO E SEMPRE SERÃO , ETERNAS !
A ARTE É UMA LINGUAGEM UNIVERSAL COMO TODAS AS EXPRESSÕES ARTÍSTICAS .
Não gosto de pintura figurativa, prefiro a pintura abstrata. A pintura figurativa já não se usa, está ultrapassada...– Pois eu prefiro a figurativa. Na pintura abstrata a gente nem percebe o que lá está... Quem nos garante que não é uma fraude?Há alguém que ainda não tenha ouvido um diálogo deste género?Acontece que este fenómeno não diz respeito apenas à pintura. Na música verifica-se o mesmo. Até aos anos 60 falava-se muito em ‘melodia’. A melodia era o que tornava uma música mais ou menos agradável ao ouvido, o que lhe conferia harmonia, equilíbrio, fluidez.Hoje a palavra ‘melodia’ caiu em desuso, porque o próprio conceito desapareceu entre os que fazem opinião. A música ‘melodiosa’ deu lugar a outras formas musicais, como a música ‘concreta’, que equivale à pintura abstracta: não tem tema, é um ‘amontoado’ de notas, exactamente como a pintura abstracta é um ‘amontoado’ de cores. E a propósito do jazz ou mesmo do rock também não faz qualquer sentido falar em melodia: a música tornou-se muito mais imediatista, deixando de ter a preocupação de ser harmoniosa ou agradável.
E na literatura passa-se o mesmo. Os romances, antes, tinham aquilo a que se chamava ‘trama’ ou ‘enredo’. Ora isso também passou de moda. Hoje a literatura mais celebrada pela crítica é a que assenta em combinações de palavras que não visam contar uma história mas criar certas sensações estéticas. O leitor é preso não pelo enredo mas pelo envolvimento ‘literário’ que o livro vai criando.E até a arte mais ‘realista’ por natureza – o cinema – seguiu o caminho da ‘abstracção’, com abundantes exemplos no chamado ‘filme de autor’ europeu, com as fitas de Bergman, Godard ou Resnais. Este movimento seria travado, como se sabe, pela invasão da Europa pelo cinema americano, de tradição realista e concreta.
Curiosamente, a questão do real e do abstracto na arte, foi uma das primeiras que tratei nos jornais. E com isso ganhei os primeiros 500 escudos – que era o valor do Prémio Fósforo Ferrero, um prémio literário e artístico instituído pelo Diário de Lisboa – Juvenil, dirigido por Mário Castrim. Ainda hoje recordo esse texto, que defendia a ideia de que Turner era o último pintor clássico e o primeiro pintor moderno. Porquê? Era um pintor clássico visto ser realista: pintava o que via. Mas, na medida em que pintava obsessivamente o mar – o mar revolto, as ondas, a rebentação, com a água a desfazer-se em espuma –, era o primeiro pintor moderno, já que as ondas não têm formas estáticas e definidas, antes se desconstroem, e nessa medida permitem todo o género de liberdades e abstracções. Clássico porque pintava a natureza, moderno porque pintava uma natureza ‘informe’ e em movimento – assim se me apresentava (e ainda apresenta) William Turner.
Trinta e tal anos depois de ter escrito esse texto continuo basicamente a pensar o mesmo – só que percebi que o conceito de abstracto se aplica a todas as artes e não só à pintura.Claro que ainda há escritores que contam histórias, como há pintores que fazem quadros figurativos, como há músicos que fazem músicas melódicas. O nosso maior escritor de sempre segundo a Academia Sueca, José Saramago, escreve romances com histórias dentro. E um dos nossos maiores pintores vivos, Júlio Pomar, pinta quadros figurativos – embora por vezes se note nele a vontade de destruir as formas –, o mesmo acontecendo com Paula Rego.Mas já Vieira da Silva transpôs a fronteira do abstracto e o nosso mais celebrado músico, Emmanuel Nunes, compõe sem grande preocupação pela melodia.De qualquer forma – e apesar de a discussão estar longe de terminada – quem hoje se pronuncia a favor da arte figurativa é considerado old fashion ou pouco versado em questões artísticas.
Quando, em fins da década de 60, eu frequentava a Escola de Belas-Artes de Lisboa, ao fundo da Rua Ivens, o meu colega Pedro Botelho, neto do pintor Carlos Botelho, deu-me uma lição sobre a arte abstracta que nunca mais esqueci.Explicava ele: a arte figurativa, quando quer representar um beijo, põe duas pessoas a beijarem-se. Como n’ O Beijo, de Rodin – um grupo escultórico formado por dois corpos nus enlaçados, um homem e uma mulher, que se beijam nos lábios. Mas – continuava ele – na pintura abstracta, quando se quer representar um beijo, não se representam as pessoas que se beijam: representa-se o beijo em si. Aquilo que vemos na tela não são duas pessoas a beijarem-se: o que lá está é o próprio beijo.Isto, hoje, para alguém versado em arte, parece uma banalidade. Mas a um jovem estudante de Belas-Artes surgiu como uma explicação luminosa. A ponto de nunca mais a ter esquecido.
Certas pessoas mais apressadas relacionam o fim da pintura figurativa (e o correspondente nascimento da pintura abstracta) com a descoberta da fotografia. E argumentam: – A partir do momento em que se descobre a fotografia, a pintura figurativa perde todo o interesse – porque as fotografias são muito mais fiéis do que os quadros. A partir daí, a pintura tinha de seguir outro caminho.Ora as coisas não são tão fáceis como parecem. Porque, como já vimos, o fenómeno não se verifica apenas na pintura – verifica-se na literatura, na música, na escultura, no cinema... e, mais recentemente, na própria fotografia! Ou seja, as fotografias que, segundo os crédulos, teriam vindo substituir a pintura, tornaram-se elas mesmas abstractas! As fotos que hoje figuram em muitas colecções de fotografia são de leitura difícil, retratam objectos ou corpos em movimento, parcelas da realidade que, por demasiado pequenas ou demasiado grandes, deixaram de ser compreensíveis – numa palavra, tornaram-se abstractas. Quem diria que a fotografia, por natureza realista, seguiria o mesmo caminho abstractizante da pintura?
Isto mostra que o abandono do real no sentido do abstracto corresponde a um movimento da nossa época. Um movimento social profundo. Um movimento de ‘desconstrução’. Um movimento de rejeição. Repare-se que, para lá da recusa do real, se verifica uma vontade de retrocesso – como se a época que vivemos fosse incómoda e houvesse necessidade de lhe fugir. Certas fases de Picasso ou Matisse remetem abertamente para a arte africana, distanciando-se provocadoramente da grande pintura clássica de Rubens, Velásquez ou Rembrandt. E a batida de muitas músicas contemporâneas confunde-se com os batuques indígenas, colocando a anos-luz as obras de Mozart ou as sinfonias de Beethoven.Objectivamente, trata-se de retrocessos, de recuos na civilização. Que a meu ver caracterizam um tempo de decadência. Este horror das artes ao real, esta fuga, esta atracção por formas puramente abstractas, este abandono dos cânones clássicos a favor de expressões primitivas – tudo isto são sintomas de decadência civilizacional.Ou, pelo menos, sinais de uma época de transição.Mas é esta a nossa época. E manda o bom senso não renegarmos o tempo em que vivemos.
Publicação: Saturday, June 02, 2007 9:00 AM por JAS
Comentários
Tuesday, June 05, 2007 12:03 PM by surpreso
# re: Um tempo de decadência
Eu tambem tenho dificuldade em distinguir o contemporâneo,para além de "bonito" ou "feio".Na pintura e na escultura ,o acabamento e os materiais são tambem fundamentais,já que se vende muito gato por lebre,para satisfazer clientelas ignorantes,mas com dinheiro.A explicaçaõ é a de que os "clássicos" chegaram a mim ,filtrados pela opinião de séculos.Aprender a apreciá-los fez parte da minha educação.Quanto à musica,a que sou particularmente sensível ,o desastre é total.Pergunto por que tendo sido já escrita a mais importante música, se insiste no absurdo? Só a suporto, imaginando que são musicas de fundo de filmes de desenho animado.Mas, onde o Tom e o Jerry nunca se encontram..
Tuesday, June 05, 2007 4:06 PM by arturfranco
# re: Um tempo de decadência
nunca na vida poderemos evocar que a pintura figurativa ou impressionista, entrará em decadencia. É como a música de Mozart ou Bethoven, e, outros, ela é, e, sempre será eterna. Os Silva Porto, os grandes retratos de Columbano, os Monet, os Van Gogh, Picasso (período azul e rosa)etc, é e serão sempre um eterno. A pintura é um estado de alma hoje e sempre, mesmo havendo a fotografia do momento, a pintura tem que ser lá no local, naquela hora,por norma ao raiar da aurora ou ao entardecer, quando as sombras são mais rasgadas e dão-nos o contraste mais alargado do claro escuro.Admiro muito Pomar, aquele retrato de Mário Soares, ele sai e vem até nós, até percebemos o que ele quer dizer, soberbo. Paula Rego pintura muito fria e temerosa, onde as suas figuras mexem connosco, conta-nos algo na realidade, mas... admiro muito mais a Graça Morais. Sobre a explicação que recebeu sobre a pintura do "beijo" no de Rodin são duas figuras que se entrelaçam num beijo profundo, e no abstracto nada disso acontece, só se vê o beijo simplesmente. Gostaria de ver esse quadro, desconheço, ele só tem o beijo? Como conseguiu pintar esse momento, sem um lábio, sem um rosto, com um olhar fechado mas aberto na alma, como pode transmitir isso, interrogo-me, ou a pessoa que o fez depois de olhar para aquilo, lembrou-se de dizer olha parece-me um beijo, boa, vai ser o BEIJO. A decadencia tem déstas coisas...
Wednesday, June 06, 2007 5:07 PM by ramodebarro
# re: Um tempo de decadência
Sou adepto dos chamados clássicos mas também apreciso os modernismos em todos os matizes. A qualidade existe, preciso é saber apreciá-la e vislumbrá-la nos interstícios, nos pormenores.
Há pintura e até literatura abstracta que rivaliza com os mais abalizados clássicos.
Na música, é preciso saber ouvir e "digeri-la"...
A arte é-o em função do destinatário, também.
Monday, June 11, 2007 12:00 PM by FernandaValente
# re: Um tempo de decadência
Temos que considerar que as várias expressões artísticas desde que as conhecemos até aos nossos dias, são a expressão viva das emoções e estados de espírito vividos pelo autor que, por sua vez, se interligam com as próprias emoções experimentadas pelo receptor, pela pessoa que as observa, que as consome. É a partir dessa "simbiose", entre autor e receptor, que a obra ganha vida do ponto de vista substantivo, através do movimento, da musicalidade, da cor, da forma.
Dizer-se que a pintura abstrata faz parte de uma época em decadência é bastante redutor. Esta expressão artística é sobretudo ininteligível para a maior parte do comum dos mortais, porque criada em épocas histórica e socialmente conturbadas, reflecte, através do autor, a decadência, não dos movimentos artísticos propriamente ditos, mas da sociedade, das instituições, dos valores, da ética e da estética, referente ao período em que é concebida. Nesse sentido, poder-se-à dizer que a arte abstrata é uma arte superior, por comparação à arte figurativa que se limita a representar o que vê, mas que não ultrapassa a dimensão humana, do ponto de vista tempo e espaço. Aquela forma de expressão é concebida de fora para dentro, toca o nosso imaginário, mexe com a nossa capacidade em apreender o real no plano do intelecto. (Pollock vai mais além, dando uma dimensão universalista à sua obra, refugiando-se nas fórmulas matemáticas, arrastando-a para o plano científico da interpretação).
No entanto, continuaremos a adorar os clássicos pelo modo simplista com que tocam o nosso coração e conseguem conviver connosco no dia-a-dia, iluminando os nossos piores momentos, e exultando de alegria naqueles mais raros que traduzem felicidade.
Pesquisa Internet__português de Portugal_07.07.2007
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