Bertolt Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 — Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi um influente dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX
Bertolt Brecht – Uma Breve Biografia (1898-1956)
Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na poesia e no teatro.
O teatro épico e didático caracteriza-se, em Brecht, pelo cunho narrativo e descritivo cujo tema é apresentar os acontecimentos sociais em seu processo dialético: Diverte e faz pensar. Não se limita a explicar o mundo, pois se dispõe a modificá-lo. É um teatro que atua, ao mesmo tempo, como ciência e como arte.
A alienação do homem, para Brecht, não se manifesta como produto da intuição artística. Brecht ocupa-se dela de maneira consciente e proposital. Mas não basta compreendê-la e focalizá-la. O essencial não é a alienação em si, mas o esforço histórico para a desalienação do homem.
O papel do autor dramático não se reduz a reproduzir, em sua obra, a sociedade de seu tempo. O principal objetivo, quer pelo conteúdo, quer pela forma, e exercer uma função transformadora, que atue revolucionariamente sobre o 'ambiente social.
GALILEU
Brecht, que passou pelo expressionismo, não ancorou o seu barco em nenhum dos portos das escolas literárias. Apesar de ligado ao Partido Comunista, não se subordinou ao realismo socialista. Ao contrário, opôs-se a ele com ardente tenacidade. Daí a repulsa das autoridades soviéticas pelas suas peças teatrais que foram proibidas de serem representadas na Rússia de Stalin.
Muito embora Brecht não se tivesse pronunciado abertamente contra os processos de Moscou, em virtude da pressão que sofreu, no ocidente, sob o pretexto de que o combate a Stalin significava o fortalecimento de Hitler e do nazismo, foi com profundo horror que ele acompanhou os trágicos acontecimentos que levaram os principais dirigentes da revolução russa, companheiros de Lênin, a confessar, antes serem fuzilados, uma série de crimes hediondos que jamais cometeram.
Foram estas falsas confissões, segundo Isaac Deutscher, que levaram Brecht a escrever Galileu Galilei, talvez a mais importante de suas obras dramáticas. Há muito de Kamenev, de Zinoviev e de Bukharin no genial astrônomo que, vítima da Inquisição, atirado no cárcere, diante dos instrumentos de tortura, se viu na contingência de renegar as próprias idéias.
A incompatibilidade de Brecht com o regime stalinista era tão aguda que, ao exilar-se da Alemanha de Hitler, preferiu asilar-se nos Estados Unidos, onde se sentiu mais seguro.
BRECHT E SHAKESPEARE
É muito comum comparar-se Brecht a Shakespeare. O motivo da associação entre um e outro é o paralelismo histórico dos períodos em que eles viveram. Shakespeare surgiu no Renascimento, na decadência do regime feudal, e alvorecer da burguesia, Brecht apareceu na fase crepuscular da burguesia, em plena ascensão do movimento operário. Ambos viveram em períodos congêneres de transição social.
Em certos aspectos, Brecht é uma chave para Shakespeare. Shakespeare, em quase todas as suas obras, passava da poesia para a prosa e da prosa para a poesia. Acreditavam os estudiosos de sua obra que a razão desta simultaneidade estava na premência do tempo. Shakespeare não chegava a pôr em versos, do começo ao fim, a peça que escrevia porque tinha de aprontá-la o mais rápido possível, dentro de prazos marcados, para levá-la ao palco. A pressa o impedia de dar o arremate final. Deixava sempre para completá-la mais tarde, quando dispusesse de tempo. A forma definitiva ficava adiada para um futuro incerto. Nunca, porém, chegou a hora de executar o que pretendera.
Este modo de ver exige uma revisão. Brecht empregava também, simultaneamente, em suas peças teatrais, a prosa e a poesia sem que estivesse disposto a dar-lhes, no futuro, uma forma diferente, pondo-as todas em versos.
O erro de julgamento quanto ao uso do verso e da prosa por Shakespeare, em sua obra dramática, está na velha tendência de compará-lo a Corneille, Racine e Molière, que não misturavam a prosa com a poesia. Shakespeare, mais espontâneo do que os clássicos franceses, mais plástico, mais livre, não se apagava, como aqueles, à pureza da forma. Passava do verso para a prosa quando julgava que certas idéias ficariam melhor expressas em prosa do que em versos. De grande importância, para ele, era o efeito no palco, o lado puramente teatral que deveriam estar acima da métrica e da estilística. Não havia necessidade de manter-se só a prosa ou só a poesia. Preferia jogar com uma e com outra como julgasse mais adequado. Esta independência tornava mais fácil o jogo das palavras e dos diálogos. Não prejudicava a estrutura da obra dramática. Só contribuía para valorizá-la. Brecht chegou às mesmas conclusões de Shakespeare quatro séculos depois. E da maneira tão indicada, tão aceitável e tão proveitosa.
ARTE E CIÊNCIA
As realizações práticas, de Brecht, nó teatro, foram acompanhadas de suas conclusões no terreno da estética: Não se tratava de tentativas empíricas, mas da aplicação de uma teoria que considerava científica. Daí seus estudos sobre uma arte dramática não aristotélica, sem submissão ou obediência às regras secularmente estabelecidas.
Brecht colocou-se à margem de todo o esquematismo das escolas literárias: Aceitando a concepção de Hegel de que há nos fenômenos artísticos uma realidade superior a uma existência mais verdadeira em comparação com a realidade habitual, chegou a Marx com a extraordinária independência de seu gênio poético e teatral. Como Shakespeare, ele soube usar, na época atual, o heróico e o lírico, o dramático e o cômico, o grave e o ridículo, dando à sua obra um sentido universal.
Brecht confessa que, embora a arte e a ciência atuem de modos diferentes, não lhe era possível subsistir como artista sem servir-se da ciência. "Do que necessitamos de fato - escreve Brecht - é de uma arte que domine a natureza, necessitamos de uma realidade moldada pela arte e de uma arte natural". Acrescenta: "Não nos podemos esquecer de que somos filhos de uma era científica". Insiste: "A ciência e a arte têm, de comum, o fato de que ambas existem para simplificar a vida do homem: uma, ocupada com sua subsistência material e a outra, em proporcionar-lhe uma agradável diversão". E conclui: "Tal como a transformação da natureza, a transformação da sociedade é um ato de libertação. Cabe ao teatro de uma época científica transmitir o júbilo desta libertação".
Quando Brecht liga a arte à ciência procura justificar o seu papel atuante nas letras sociais e políticas do mundo atual. O teatro de Brecht é eminentemente político. Não de forma indireta, mas aberta e declaradamente. Pode-se dizer: um teatro a serviço da causa operária, da revolução social. Daí o seu caráter épico e didático.
NAZISMO E EXÍLIO
Em 1933, quando Adolfo Hitler, à frente do Terceiro Reich, estabeleceu o nazismo na Alemanha, inaugurando uma nova ordem que, segundo ele, deveria durar dez mil anos, Bertolt Brecht, com trinta e cinco anos de idade, abandonou o país, asilando-se em várias cidades da Europa. Suas obras, em Berlim, foram queimadas em praça pública com tantas outras dos mais famosos escritores da época. No dia em que a Alemanha invadiu a Dinamarca, Brecht, que se encontrava neste país, fugiu para a Finlândia. Dali partiu para Vladivostok, onde embarcou para os Estados Unidos. No exílio, que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, publicou vários poemas que contribuem para sua glória literária tanto como suas peças teatrais. Brecht não se cansou de fustigar violentamente a figura de Hitler, mostrando os crimes do nazismo. De volta à Alemanha, depois do desmoronamento deste regime, continuou a lutar, como marxista, pela causa operária. Ao morrer, em 1956, o mundo inteiro reconhecia a grandeza de sua obra.
O OBJETIVO DA POESIA MODERNA
Brecht tem, sobre a poesia, o mesmo pensamento que tem sobre a arte dramática. Maneja-a da maneira mais sábia em defesa da liberdade do homem. Há, em seus poemas, o mesmo sentido épico e didático de suas peças teatrais. Recusa-se a aceitar uma poesia alheia aos acontecimentos sociais. Exige que ela seja atuante sem perder, entretanto, o seu sentido artístico. A poesia moderna deve estar ao lado da revolução.
O êxito excepcional do teatro e da poesia de Brecht confirma a justeza de seus pontos-de-vista. Sua arte é duplamente revolucionária: no fundo e na forma. Não só se opõe à estética de Aristóteles como não se submete ao convencionalismo e aos preconceitos sociais. Escreve independentemente como acha que se deve escrever.
Aqui se encontram reunidos alguns poemas de Brecht. Contei, na versão e revisão da obra com a colaboração de um profundo conhecedor do idioma alemão. Mas não pretendo responsabilizá-lo pelas adaptações que fui levado a fazer. Toda a tradução em verso é uma adaptação no sentido exato do termo. Não se pode fugir a esta regra por mais que se permaneça fiel ao pensamento do autor.
Bertolt Brecht – Uma Breve Biografia (1898-1956)
Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na poesia e no teatro.
O teatro épico e didático caracteriza-se, em Brecht, pelo cunho narrativo e descritivo cujo tema é apresentar os acontecimentos sociais em seu processo dialético: Diverte e faz pensar. Não se limita a explicar o mundo, pois se dispõe a modificá-lo. É um teatro que atua, ao mesmo tempo, como ciência e como arte.
A alienação do homem, para Brecht, não se manifesta como produto da intuição artística. Brecht ocupa-se dela de maneira consciente e proposital. Mas não basta compreendê-la e focalizá-la. O essencial não é a alienação em si, mas o esforço histórico para a desalienação do homem.
O papel do autor dramático não se reduz a reproduzir, em sua obra, a sociedade de seu tempo. O principal objetivo, quer pelo conteúdo, quer pela forma, e exercer uma função transformadora, que atue revolucionariamente sobre o 'ambiente social.
GALILEU
Brecht, que passou pelo expressionismo, não ancorou o seu barco em nenhum dos portos das escolas literárias. Apesar de ligado ao Partido Comunista, não se subordinou ao realismo socialista. Ao contrário, opôs-se a ele com ardente tenacidade. Daí a repulsa das autoridades soviéticas pelas suas peças teatrais que foram proibidas de serem representadas na Rússia de Stalin.
Muito embora Brecht não se tivesse pronunciado abertamente contra os processos de Moscou, em virtude da pressão que sofreu, no ocidente, sob o pretexto de que o combate a Stalin significava o fortalecimento de Hitler e do nazismo, foi com profundo horror que ele acompanhou os trágicos acontecimentos que levaram os principais dirigentes da revolução russa, companheiros de Lênin, a confessar, antes serem fuzilados, uma série de crimes hediondos que jamais cometeram.
Foram estas falsas confissões, segundo Isaac Deutscher, que levaram Brecht a escrever Galileu Galilei, talvez a mais importante de suas obras dramáticas. Há muito de Kamenev, de Zinoviev e de Bukharin no genial astrônomo que, vítima da Inquisição, atirado no cárcere, diante dos instrumentos de tortura, se viu na contingência de renegar as próprias idéias.
A incompatibilidade de Brecht com o regime stalinista era tão aguda que, ao exilar-se da Alemanha de Hitler, preferiu asilar-se nos Estados Unidos, onde se sentiu mais seguro.
BRECHT E SHAKESPEARE
É muito comum comparar-se Brecht a Shakespeare. O motivo da associação entre um e outro é o paralelismo histórico dos períodos em que eles viveram. Shakespeare surgiu no Renascimento, na decadência do regime feudal, e alvorecer da burguesia, Brecht apareceu na fase crepuscular da burguesia, em plena ascensão do movimento operário. Ambos viveram em períodos congêneres de transição social.
Em certos aspectos, Brecht é uma chave para Shakespeare. Shakespeare, em quase todas as suas obras, passava da poesia para a prosa e da prosa para a poesia. Acreditavam os estudiosos de sua obra que a razão desta simultaneidade estava na premência do tempo. Shakespeare não chegava a pôr em versos, do começo ao fim, a peça que escrevia porque tinha de aprontá-la o mais rápido possível, dentro de prazos marcados, para levá-la ao palco. A pressa o impedia de dar o arremate final. Deixava sempre para completá-la mais tarde, quando dispusesse de tempo. A forma definitiva ficava adiada para um futuro incerto. Nunca, porém, chegou a hora de executar o que pretendera.
Este modo de ver exige uma revisão. Brecht empregava também, simultaneamente, em suas peças teatrais, a prosa e a poesia sem que estivesse disposto a dar-lhes, no futuro, uma forma diferente, pondo-as todas em versos.
O erro de julgamento quanto ao uso do verso e da prosa por Shakespeare, em sua obra dramática, está na velha tendência de compará-lo a Corneille, Racine e Molière, que não misturavam a prosa com a poesia. Shakespeare, mais espontâneo do que os clássicos franceses, mais plástico, mais livre, não se apagava, como aqueles, à pureza da forma. Passava do verso para a prosa quando julgava que certas idéias ficariam melhor expressas em prosa do que em versos. De grande importância, para ele, era o efeito no palco, o lado puramente teatral que deveriam estar acima da métrica e da estilística. Não havia necessidade de manter-se só a prosa ou só a poesia. Preferia jogar com uma e com outra como julgasse mais adequado. Esta independência tornava mais fácil o jogo das palavras e dos diálogos. Não prejudicava a estrutura da obra dramática. Só contribuía para valorizá-la. Brecht chegou às mesmas conclusões de Shakespeare quatro séculos depois. E da maneira tão indicada, tão aceitável e tão proveitosa.
ARTE E CIÊNCIA
As realizações práticas, de Brecht, nó teatro, foram acompanhadas de suas conclusões no terreno da estética: Não se tratava de tentativas empíricas, mas da aplicação de uma teoria que considerava científica. Daí seus estudos sobre uma arte dramática não aristotélica, sem submissão ou obediência às regras secularmente estabelecidas.
Brecht colocou-se à margem de todo o esquematismo das escolas literárias: Aceitando a concepção de Hegel de que há nos fenômenos artísticos uma realidade superior a uma existência mais verdadeira em comparação com a realidade habitual, chegou a Marx com a extraordinária independência de seu gênio poético e teatral. Como Shakespeare, ele soube usar, na época atual, o heróico e o lírico, o dramático e o cômico, o grave e o ridículo, dando à sua obra um sentido universal.
Brecht confessa que, embora a arte e a ciência atuem de modos diferentes, não lhe era possível subsistir como artista sem servir-se da ciência. "Do que necessitamos de fato - escreve Brecht - é de uma arte que domine a natureza, necessitamos de uma realidade moldada pela arte e de uma arte natural". Acrescenta: "Não nos podemos esquecer de que somos filhos de uma era científica". Insiste: "A ciência e a arte têm, de comum, o fato de que ambas existem para simplificar a vida do homem: uma, ocupada com sua subsistência material e a outra, em proporcionar-lhe uma agradável diversão". E conclui: "Tal como a transformação da natureza, a transformação da sociedade é um ato de libertação. Cabe ao teatro de uma época científica transmitir o júbilo desta libertação".
Quando Brecht liga a arte à ciência procura justificar o seu papel atuante nas letras sociais e políticas do mundo atual. O teatro de Brecht é eminentemente político. Não de forma indireta, mas aberta e declaradamente. Pode-se dizer: um teatro a serviço da causa operária, da revolução social. Daí o seu caráter épico e didático.
NAZISMO E EXÍLIO
Em 1933, quando Adolfo Hitler, à frente do Terceiro Reich, estabeleceu o nazismo na Alemanha, inaugurando uma nova ordem que, segundo ele, deveria durar dez mil anos, Bertolt Brecht, com trinta e cinco anos de idade, abandonou o país, asilando-se em várias cidades da Europa. Suas obras, em Berlim, foram queimadas em praça pública com tantas outras dos mais famosos escritores da época. No dia em que a Alemanha invadiu a Dinamarca, Brecht, que se encontrava neste país, fugiu para a Finlândia. Dali partiu para Vladivostok, onde embarcou para os Estados Unidos. No exílio, que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, publicou vários poemas que contribuem para sua glória literária tanto como suas peças teatrais. Brecht não se cansou de fustigar violentamente a figura de Hitler, mostrando os crimes do nazismo. De volta à Alemanha, depois do desmoronamento deste regime, continuou a lutar, como marxista, pela causa operária. Ao morrer, em 1956, o mundo inteiro reconhecia a grandeza de sua obra.
O OBJETIVO DA POESIA MODERNA
Brecht tem, sobre a poesia, o mesmo pensamento que tem sobre a arte dramática. Maneja-a da maneira mais sábia em defesa da liberdade do homem. Há, em seus poemas, o mesmo sentido épico e didático de suas peças teatrais. Recusa-se a aceitar uma poesia alheia aos acontecimentos sociais. Exige que ela seja atuante sem perder, entretanto, o seu sentido artístico. A poesia moderna deve estar ao lado da revolução.
O êxito excepcional do teatro e da poesia de Brecht confirma a justeza de seus pontos-de-vista. Sua arte é duplamente revolucionária: no fundo e na forma. Não só se opõe à estética de Aristóteles como não se submete ao convencionalismo e aos preconceitos sociais. Escreve independentemente como acha que se deve escrever.
Aqui se encontram reunidos alguns poemas de Brecht. Contei, na versão e revisão da obra com a colaboração de um profundo conhecedor do idioma alemão. Mas não pretendo responsabilizá-lo pelas adaptações que fui levado a fazer. Toda a tradução em verso é uma adaptação no sentido exato do termo. Não se pode fugir a esta regra por mais que se permaneça fiel ao pensamento do autor.
1 comment:
Oi Sandra, obrigada pela visita e carinho. Um bom domingo pra voce. Beijos das amigas,
Sandra,Marie e Betty
http://clubedamelhoridade.sites.uol.com.br
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