A mídia e a violência: uma parceria perigosa
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Creio que hoje não existem mais dúvidas sobre a existência de uma relação entre a predominância da violência na programação da televisão, nos sites da internet e a tendência para a agressividade de jovens e adultos. Estudiosos do tema declaram sem hesitação que a televisão "faz com que as pessoas pensem que a violência é normal" e que "quanto mais desigual a estrutura da sociedade maior o impacto da violência mostrada na TV".
Certamente essas pesquisas e esses resultados são do conhecimento dos executivos dos nossos principais grupos de mídia. Ultimamente os jornalistas e os profissionais da mídia passaram a ser também vítimas da violência. Haja vista o seqüestro que houve no ano passado de um jornalista e um técnico da TV Globo em São Paulo por criminosos que em troca exigiram a exibição de um vídeo na emissora.
Em um momento onde a violência urbana alcança patamares nunca antes atingidos, parece oportuno refletir sobre o papel da mídia no crescimento da violência. O crime organizado sabe muito bem que na sociedade contemporânea a mídia exerce um poder de suma importância, sendo um "instrumento de influência, de ação e de decisão incontestável", muito além do poder político. A mídia pode derrubar ou construir governantes, criar e destruir ídolos e mitos em curto espaço de tempo, inventar mundos irreais e convencer as pessoas de sua existência.
Por isso, a mídia pode ter um papel importante na erradicação da violência. Para isso, no entanto, é necessário que ela reconheça ser também parte do problema e da solução e não apenas uma instituição que assiste à escalada da violência que toma conta do país e reclama providências das autoridades.
Os meios de comunicação operam como macro testemunha social e dão uma visibilidade exagerada da violência para o público. A mídia não apenas dá uma visão objetiva do fato, mas interfere no fato, interpreta, dramatiza e mesmo exagera na cobertura do episódio violento. Existe uma superexploração dos crimes violentos contra a pessoa, como chacinas, homicídios e seqüestros. E ao lado desta superexploração, uma banalização. O que se vê a todo minuto nos meios de comunicação deixa de ser surpreendente e torna-se banal.
Em recente pesquisa realizada pela UNESCO em 23 países, incluindo o Brasil constata-se que a violência na mídia pode funcionar como compensação de carências em ambientes problemáticos e como desencadeador de emoção onde não há problemas. A mídia, portanto, que deveria espelhar as contradições e conflitos na sociedade, banaliza a informação. Na verdade, quando dois terços da humanidade vivem na miséria, que é uma das mais cruéis formas de violência, a onipresença da violência na mídia pode estimular muito mais as ações violentas para a resolução de simples conflitos cotidianos do que atos pacíficos e de respeito aos outros e a si mesmo. Na evolução histórica da mídia, a cobertura de atos e conflitos violentos ganhou cada vez mais destaque. A história da comunicação na verdade é em boa parte a história sensacionalista da violência, que assim fazia captar público. A questão se agudizou com a rapidez de circulação da notícia e de sua interpretação. Até a Primeira Guerra Mundial, os correspondentes mandavam as notícias para os jornais por correios ou telégrafos. Na Segunda Guerra, o grande veículo de comunicação era o rádio. Conflitos posteriores como a Guerra do Vietnã e a Guerra do Golfo foram acompanhados por milhões de espectadores pela televisão. A ligeireza da informação sobre violência atingiu o seu apogeu quando internautas de todo o mundo acompanharam, em transmissão praticamente simultânea e em tempo real, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Em suma, no mundo midiático, a violência está presente também em muitos videogames utilizados por milhões de crianças e adolescentes dentro e fora dos lares, que motivam os jovens a práticas perniciosas. Existe um videogame no qual quanto mais se mata e quanto mais cruel for a forma de matar, mais pontos são conquistados pelo jogador. Também, na internet, essa maravilhosa conquista da tecnologia, encontramos o que há de mais nobre e salutar e o que há de mais repugnante e atentatório à vida, à liberdade e aos direitos humanos.
Ter consciência do problema já é um passo importante para encontrar solução para ele. Em lugar de apenas criticar a mídia, portanto, impõe-se lutar para que o poder que está em nossas mãos seja usado no sentido de assumir o protagonismo na discussão de uma sociedade mais justa, com uma mídia que respeita os valores culturais, éticos e morais da sociedade.
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Creio que hoje não existem mais dúvidas sobre a existência de uma relação entre a predominância da violência na programação da televisão, nos sites da internet e a tendência para a agressividade de jovens e adultos. Estudiosos do tema declaram sem hesitação que a televisão "faz com que as pessoas pensem que a violência é normal" e que "quanto mais desigual a estrutura da sociedade maior o impacto da violência mostrada na TV".
Certamente essas pesquisas e esses resultados são do conhecimento dos executivos dos nossos principais grupos de mídia. Ultimamente os jornalistas e os profissionais da mídia passaram a ser também vítimas da violência. Haja vista o seqüestro que houve no ano passado de um jornalista e um técnico da TV Globo em São Paulo por criminosos que em troca exigiram a exibição de um vídeo na emissora.
Em um momento onde a violência urbana alcança patamares nunca antes atingidos, parece oportuno refletir sobre o papel da mídia no crescimento da violência. O crime organizado sabe muito bem que na sociedade contemporânea a mídia exerce um poder de suma importância, sendo um "instrumento de influência, de ação e de decisão incontestável", muito além do poder político. A mídia pode derrubar ou construir governantes, criar e destruir ídolos e mitos em curto espaço de tempo, inventar mundos irreais e convencer as pessoas de sua existência.
Por isso, a mídia pode ter um papel importante na erradicação da violência. Para isso, no entanto, é necessário que ela reconheça ser também parte do problema e da solução e não apenas uma instituição que assiste à escalada da violência que toma conta do país e reclama providências das autoridades.
Os meios de comunicação operam como macro testemunha social e dão uma visibilidade exagerada da violência para o público. A mídia não apenas dá uma visão objetiva do fato, mas interfere no fato, interpreta, dramatiza e mesmo exagera na cobertura do episódio violento. Existe uma superexploração dos crimes violentos contra a pessoa, como chacinas, homicídios e seqüestros. E ao lado desta superexploração, uma banalização. O que se vê a todo minuto nos meios de comunicação deixa de ser surpreendente e torna-se banal.
Em recente pesquisa realizada pela UNESCO em 23 países, incluindo o Brasil constata-se que a violência na mídia pode funcionar como compensação de carências em ambientes problemáticos e como desencadeador de emoção onde não há problemas. A mídia, portanto, que deveria espelhar as contradições e conflitos na sociedade, banaliza a informação. Na verdade, quando dois terços da humanidade vivem na miséria, que é uma das mais cruéis formas de violência, a onipresença da violência na mídia pode estimular muito mais as ações violentas para a resolução de simples conflitos cotidianos do que atos pacíficos e de respeito aos outros e a si mesmo. Na evolução histórica da mídia, a cobertura de atos e conflitos violentos ganhou cada vez mais destaque. A história da comunicação na verdade é em boa parte a história sensacionalista da violência, que assim fazia captar público. A questão se agudizou com a rapidez de circulação da notícia e de sua interpretação. Até a Primeira Guerra Mundial, os correspondentes mandavam as notícias para os jornais por correios ou telégrafos. Na Segunda Guerra, o grande veículo de comunicação era o rádio. Conflitos posteriores como a Guerra do Vietnã e a Guerra do Golfo foram acompanhados por milhões de espectadores pela televisão. A ligeireza da informação sobre violência atingiu o seu apogeu quando internautas de todo o mundo acompanharam, em transmissão praticamente simultânea e em tempo real, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Em suma, no mundo midiático, a violência está presente também em muitos videogames utilizados por milhões de crianças e adolescentes dentro e fora dos lares, que motivam os jovens a práticas perniciosas. Existe um videogame no qual quanto mais se mata e quanto mais cruel for a forma de matar, mais pontos são conquistados pelo jogador. Também, na internet, essa maravilhosa conquista da tecnologia, encontramos o que há de mais nobre e salutar e o que há de mais repugnante e atentatório à vida, à liberdade e aos direitos humanos.
Ter consciência do problema já é um passo importante para encontrar solução para ele. Em lugar de apenas criticar a mídia, portanto, impõe-se lutar para que o poder que está em nossas mãos seja usado no sentido de assumir o protagonismo na discussão de uma sociedade mais justa, com uma mídia que respeita os valores culturais, éticos e morais da sociedade.
Fonte de Pesquisa: Internet
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