A emergência da mulher: um fenômeno que renova a face da Terra
Já lá se vão mais de quatro décadas desde que o fenômeno da emergência da mulher começou a acontecer em todos os setores da vida social, política, cultural. E o evento desta emergência é percebido pelos principais setores desta mesma sociedade como um dos fatores mais importantes e relevantes em termos da mutação de seu perfil contemporâneo.
A metade feminina da humanidade, que vai saindo da sombra e da invisibilidade após tantos séculos, vem merecendo, por parte de especialistas das mais diversas áreas, atenção e interesse. Bastaria, para comprovar esta afirmação, a grande quantidade de pesquisas, escritos e eventos organizados em torno do tema, relacionando-o com as mais diversas áreas do saber e do conhecimento.
A mulher deixou o espaço doméstico e aventurou-se no público, chegando agora a ser maioria em algumas profissões que tradicionalmente eram ocupadas por homens. É assim que médicas, engenheiras ,advogadas substituem o terno pelo tailleur e entram com tudo reivindicando salário, carreira e disputando palmo a palmo o terreno bem sucedido das profissões.
A tradição religiosa judaico-cristã apresenta características particulares na maneira de tratar com as mulheres e o feminino.. Valorizando o papel da mulher sobretudo como esposa e mãe (judaísmo e cristianismo), ou na sua consagração virginal a Deus (cristianismo), restringiu no entanto durante séculos sua atuação e mobilidade quase que somente ao âmbito do doméstico e privado (a casa ou o convento). Acresce a isso o fato da imagem da mulher no judeu-cristianismo ser quase sempre associada ao pecado e, portanto, à tentação, à sedução e ao perigo, devido à tradição bíblica do livro do Gênesis que dá à mulher a primazia na dinâmica da queda da humanidade e do chamado pecado original. Assim, a mulher, fator de ameaça, geradora de medo, foi sendo sempre mais confinada ao espaço privado doméstico e conventual, desde onde poderia ser mais facilmente controlada e silenciada.
Os ventos da emancipação feminina no Ocidente cristão não sopraram inicialmente, portanto, a partir das Igrejas. Foi, pelo contrário, a partir do próprio processo de secularização e no interior de lutas muito concretas e profanas (voto, salário, jornada de trabalho, sexualidade, direitos do corpo) que a mulher foi fazendo sua "evasão" do espaço doméstico privado ao qual se achava limitada em direção ao espaço público, atuando nas estruturas sociais, na política, na produção econômica e cultural.
O Brasil nesse sentido dá um exemplo ao mundo tendo como segunda pessoa pública do país uma mulher: a ministra Dilma Roussef, chefe da Casa Civil da Presidencia da República. E assim outras ministras também ocupam o ministério.
Os Estados Unidos parece que estão perto de ter a primeira mulher como presidente da República. Esperança dos democratas que desejam voltar a ocupar a Casa Branca, Hilary Clinton corre célere para as “primary colours”. É de se ver o que acontecerá nas próximas eleições.
Em todo caso, essa presença feminina tomando o mercado de trabalho e os espaços públicos quase de assalto traz esperança. Que as decisões humanas neste mundo tão conturbado e louco sejam tomadas com mais coração e mais ternura e por isso consigam produzir um mundo mais humano.
Pois o modo feminino de fazer e construir é um modo diferente. Um modo onde cabeça, coração e entranhas se unem em fecunda e harmoniosa dança cujo produto é uma atuação diferente sobre a realidade. É de se esperar que este feminismo da segunda hora traga boas notícias para o mundo. Pois é verdade que ele está precisando.
* Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, e Diretora Geral de Conteúdo do Amai-vos. É também autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
Já lá se vão mais de quatro décadas desde que o fenômeno da emergência da mulher começou a acontecer em todos os setores da vida social, política, cultural. E o evento desta emergência é percebido pelos principais setores desta mesma sociedade como um dos fatores mais importantes e relevantes em termos da mutação de seu perfil contemporâneo.
A metade feminina da humanidade, que vai saindo da sombra e da invisibilidade após tantos séculos, vem merecendo, por parte de especialistas das mais diversas áreas, atenção e interesse. Bastaria, para comprovar esta afirmação, a grande quantidade de pesquisas, escritos e eventos organizados em torno do tema, relacionando-o com as mais diversas áreas do saber e do conhecimento.
A mulher deixou o espaço doméstico e aventurou-se no público, chegando agora a ser maioria em algumas profissões que tradicionalmente eram ocupadas por homens. É assim que médicas, engenheiras ,advogadas substituem o terno pelo tailleur e entram com tudo reivindicando salário, carreira e disputando palmo a palmo o terreno bem sucedido das profissões.
A tradição religiosa judaico-cristã apresenta características particulares na maneira de tratar com as mulheres e o feminino.. Valorizando o papel da mulher sobretudo como esposa e mãe (judaísmo e cristianismo), ou na sua consagração virginal a Deus (cristianismo), restringiu no entanto durante séculos sua atuação e mobilidade quase que somente ao âmbito do doméstico e privado (a casa ou o convento). Acresce a isso o fato da imagem da mulher no judeu-cristianismo ser quase sempre associada ao pecado e, portanto, à tentação, à sedução e ao perigo, devido à tradição bíblica do livro do Gênesis que dá à mulher a primazia na dinâmica da queda da humanidade e do chamado pecado original. Assim, a mulher, fator de ameaça, geradora de medo, foi sendo sempre mais confinada ao espaço privado doméstico e conventual, desde onde poderia ser mais facilmente controlada e silenciada.
Os ventos da emancipação feminina no Ocidente cristão não sopraram inicialmente, portanto, a partir das Igrejas. Foi, pelo contrário, a partir do próprio processo de secularização e no interior de lutas muito concretas e profanas (voto, salário, jornada de trabalho, sexualidade, direitos do corpo) que a mulher foi fazendo sua "evasão" do espaço doméstico privado ao qual se achava limitada em direção ao espaço público, atuando nas estruturas sociais, na política, na produção econômica e cultural.
O Brasil nesse sentido dá um exemplo ao mundo tendo como segunda pessoa pública do país uma mulher: a ministra Dilma Roussef, chefe da Casa Civil da Presidencia da República. E assim outras ministras também ocupam o ministério.
Os Estados Unidos parece que estão perto de ter a primeira mulher como presidente da República. Esperança dos democratas que desejam voltar a ocupar a Casa Branca, Hilary Clinton corre célere para as “primary colours”. É de se ver o que acontecerá nas próximas eleições.
Em todo caso, essa presença feminina tomando o mercado de trabalho e os espaços públicos quase de assalto traz esperança. Que as decisões humanas neste mundo tão conturbado e louco sejam tomadas com mais coração e mais ternura e por isso consigam produzir um mundo mais humano.
Pois o modo feminino de fazer e construir é um modo diferente. Um modo onde cabeça, coração e entranhas se unem em fecunda e harmoniosa dança cujo produto é uma atuação diferente sobre a realidade. É de se esperar que este feminismo da segunda hora traga boas notícias para o mundo. Pois é verdade que ele está precisando.
* Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, e Diretora Geral de Conteúdo do Amai-vos. É também autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
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