Por Pedro J. Bondaczuk
-->A crueldade – tenho essa convicção comigo, por experiência e observação – não é inata nas pessoas. Ninguém nasce cruel, impiedoso e sanguinário. Aprende a sê-lo no correr da vida. Uns antes, outros depois, mas quando isso ocorre, é sempre por algum tipo de influência alheia, e compelido pelas circunstâncias.Há crianças que, desde muito pequenas, por exemplo, torturam animais, agridem colegas e irmãos e mostram forte propensão para se tornarem cruéis, quando não frios e sanguinários bandidos, tidos e havidos como irrecuperáveis (quase sempre são). Nasceram dessa forma? Entendo que não! Limitam-se a copiar o que viram ou ouviram ou o que adultos estúpidos e despreparados fizeram com elas. Consideram “normal” se impor fisicamente sobre qualquer desafeto. Caso sejam devidamente orientadas, todavia, se conscientizarão de que causar sofrimento a alguém é uma atitude abominável e mudarão esse comportamento ou, no mínimo, o manterão sob o mais estrito controle. Por outro lado, devemos ter extrema cautela com as informações e, principalmente, com imagens com as quais alimentamos, diariamente, o nosso espírito. Explico por que. Nosso subconsciente não é seletivo, como é o consciente. Não estabelece nenhuma filtragem de valores. Não separa, pois, automaticamente, o bem do mal. Grava tudo, absolutamente tudo o que vemos, ouvimos e sentimos. E quando menos esperamos, tudo isso emerge ao consciente e lá estamos nós, agindo de maneira brutal, quando não delituosa, às vezes até à nossa revelia.Caso, na vida cotidiana, nos fartemos de imagens de atos de degradação e de destruição alheios – quer através do noticiário, do cinema e da televisão, quer por vivenciarmos essas situações de conflito – corremos o risco do nosso subconsciente incrementar nossa instintiva agressividade individual e interferir, para pior, em nossa personalidade. Esses (maus) exemplos tendem a nos tornar mais agressivos que o normal (sei lá se existe alguma normalidade nisso), impiedosos e, sobretudo, cruéis.Claro que não proponho que sejamos alienados. Longe disso! Mas, para o nosso próprio bem, em nome da nossa sanidade mental, social e comportamental, devemos ser profundamente analíticos em relação a tudo o que vemos e ouvimos e pôr tudo isso no devido contexto. Precisamos nos conscientizar que a violência é errada em toda e qualquer circunstância e jamais se justifica. E que a crueldade é absolutamente inadmissível. O melhor é repetir, repetir e repetir isso, todos os dias, como um mantra, para que se grave, se fixe em nosso subconsciente, a ferro e fogo ser preciso for. Há, por outro lado, situações muito piores do que meramente assistir filmes violentos ou pornográficos, ler livros em que a crueldade seja levada a graus extremos de paroxismo (há inúmeros com essa característica) ou nos fartarmos de histórias de fanfarronices e valentias, como se fossem comportamentos normais. Elas são muito mais comuns do que se pensa.Se crescermos, por exemplo, em um ambiente familiar desestruturado e doentio, em que todas as controvérsias se resolvam (apenas) na base da pancada (do mais forte sobre o mais fraco, claro) e se, além disso, tivermos a infelicidade de ter um pai alcoólatra, vagabundo e irresponsável (situação pra lá de comum numa infinidade de famílias mundo afora) e mãe passiva, que se submeta, docilmente, à violência, e não tome nunca quaisquer providências para fazer valer seus direitos mais comezinhos (em geral, por medo de represálias), as probabilidades de reproduzirmos esse comportamento anormal e cruel (de que somos testemunhas e vítimas) são imensas, senão praticamente absolutas.Claro que somente isso não justifica a violência. Nada a justifica e nunca. Explica-a, todavia, pelo menos em parte. Queiram ou não, as cenas terríveis, mostradas por determinados filmes, se constituem, de fato, numa aprendizagem da crueldade. Subconscientemente, podemos ser incitados à imitação e nos tornarmos, à nossa revelia, pessoas violentas e destrutivas, como esses personagens da ficção.Não sou eu que afirmo isso. Especialistas no estudo do comportamento, psicólogos, psiquiatras, filósofos e sociólogos fazem, a todo o momento, a mesma constatação, subsidiados por dados concretos, posto que não desta minha maneira desabrida, nua e crua, sem recurso a quaisquer teorias e a jargões interditos à maioria.Reitero, pois, o que afirmei: a crueldade não é inata. É fruto de aprendizagem. O sociólogo francês, Philipe Saint-Marc, dá-me razão e faz a seguinte advertência a respeito: “Não existe uma substituição da agressividade individual, mas a aprendizagem da crueldade, o incitamento à imitação, à reprodução na vida cotidiana de atos de degradação ou de destruição que excitaram a imaginação do espectador”.Portanto, amigo, cautela! Saiba ser seletivo em relação ao que ouve e vê e, sobretudo, tenha sempre em mente a escala de valores que faz do homem mais do que mero animal: torna-o racional. Para quê abarrotar seu subconsciente com esse perigoso lixo tóxico?
Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor, autor do livro “Por Uma Nova Utopia”O conteúdo veiculado nas colunas é de responsabilidade de seus autores.
-->A crueldade – tenho essa convicção comigo, por experiência e observação – não é inata nas pessoas. Ninguém nasce cruel, impiedoso e sanguinário. Aprende a sê-lo no correr da vida. Uns antes, outros depois, mas quando isso ocorre, é sempre por algum tipo de influência alheia, e compelido pelas circunstâncias.Há crianças que, desde muito pequenas, por exemplo, torturam animais, agridem colegas e irmãos e mostram forte propensão para se tornarem cruéis, quando não frios e sanguinários bandidos, tidos e havidos como irrecuperáveis (quase sempre são). Nasceram dessa forma? Entendo que não! Limitam-se a copiar o que viram ou ouviram ou o que adultos estúpidos e despreparados fizeram com elas. Consideram “normal” se impor fisicamente sobre qualquer desafeto. Caso sejam devidamente orientadas, todavia, se conscientizarão de que causar sofrimento a alguém é uma atitude abominável e mudarão esse comportamento ou, no mínimo, o manterão sob o mais estrito controle. Por outro lado, devemos ter extrema cautela com as informações e, principalmente, com imagens com as quais alimentamos, diariamente, o nosso espírito. Explico por que. Nosso subconsciente não é seletivo, como é o consciente. Não estabelece nenhuma filtragem de valores. Não separa, pois, automaticamente, o bem do mal. Grava tudo, absolutamente tudo o que vemos, ouvimos e sentimos. E quando menos esperamos, tudo isso emerge ao consciente e lá estamos nós, agindo de maneira brutal, quando não delituosa, às vezes até à nossa revelia.Caso, na vida cotidiana, nos fartemos de imagens de atos de degradação e de destruição alheios – quer através do noticiário, do cinema e da televisão, quer por vivenciarmos essas situações de conflito – corremos o risco do nosso subconsciente incrementar nossa instintiva agressividade individual e interferir, para pior, em nossa personalidade. Esses (maus) exemplos tendem a nos tornar mais agressivos que o normal (sei lá se existe alguma normalidade nisso), impiedosos e, sobretudo, cruéis.Claro que não proponho que sejamos alienados. Longe disso! Mas, para o nosso próprio bem, em nome da nossa sanidade mental, social e comportamental, devemos ser profundamente analíticos em relação a tudo o que vemos e ouvimos e pôr tudo isso no devido contexto. Precisamos nos conscientizar que a violência é errada em toda e qualquer circunstância e jamais se justifica. E que a crueldade é absolutamente inadmissível. O melhor é repetir, repetir e repetir isso, todos os dias, como um mantra, para que se grave, se fixe em nosso subconsciente, a ferro e fogo ser preciso for. Há, por outro lado, situações muito piores do que meramente assistir filmes violentos ou pornográficos, ler livros em que a crueldade seja levada a graus extremos de paroxismo (há inúmeros com essa característica) ou nos fartarmos de histórias de fanfarronices e valentias, como se fossem comportamentos normais. Elas são muito mais comuns do que se pensa.Se crescermos, por exemplo, em um ambiente familiar desestruturado e doentio, em que todas as controvérsias se resolvam (apenas) na base da pancada (do mais forte sobre o mais fraco, claro) e se, além disso, tivermos a infelicidade de ter um pai alcoólatra, vagabundo e irresponsável (situação pra lá de comum numa infinidade de famílias mundo afora) e mãe passiva, que se submeta, docilmente, à violência, e não tome nunca quaisquer providências para fazer valer seus direitos mais comezinhos (em geral, por medo de represálias), as probabilidades de reproduzirmos esse comportamento anormal e cruel (de que somos testemunhas e vítimas) são imensas, senão praticamente absolutas.Claro que somente isso não justifica a violência. Nada a justifica e nunca. Explica-a, todavia, pelo menos em parte. Queiram ou não, as cenas terríveis, mostradas por determinados filmes, se constituem, de fato, numa aprendizagem da crueldade. Subconscientemente, podemos ser incitados à imitação e nos tornarmos, à nossa revelia, pessoas violentas e destrutivas, como esses personagens da ficção.Não sou eu que afirmo isso. Especialistas no estudo do comportamento, psicólogos, psiquiatras, filósofos e sociólogos fazem, a todo o momento, a mesma constatação, subsidiados por dados concretos, posto que não desta minha maneira desabrida, nua e crua, sem recurso a quaisquer teorias e a jargões interditos à maioria.Reitero, pois, o que afirmei: a crueldade não é inata. É fruto de aprendizagem. O sociólogo francês, Philipe Saint-Marc, dá-me razão e faz a seguinte advertência a respeito: “Não existe uma substituição da agressividade individual, mas a aprendizagem da crueldade, o incitamento à imitação, à reprodução na vida cotidiana de atos de degradação ou de destruição que excitaram a imaginação do espectador”.Portanto, amigo, cautela! Saiba ser seletivo em relação ao que ouve e vê e, sobretudo, tenha sempre em mente a escala de valores que faz do homem mais do que mero animal: torna-o racional. Para quê abarrotar seu subconsciente com esse perigoso lixo tóxico?
Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor, autor do livro “Por Uma Nova Utopia”O conteúdo veiculado nas colunas é de responsabilidade de seus autores.
No comments:
Post a Comment