O solitário é tocado pela luz de um farol que o destaca de todos os demais : alguém o escolhe . Raramente ele se julga digno desse amor , e no começo duvida . Encolhido , receia mexer-se , receia cair do penhasco , receia afogar-se irremediavelmente .
As lutas passadas , as perdas , talvez alguma amargura , podem ter-lhe ensinado que abrir o flanco deixa entrar alegria mas também decepção e dor .
Porém a sedução do outro é um mar de estrelas em que nos jogamos com prazer : nele nos miramos , nele nos encontramos , o outro terá poder de vida e morte sobre nós - e lhe cedemos isso com imenso agrado .
Se for o encontro de dois solitários , o universo inteiro estremece , deslocam-se forças singulares , nunca mais será igual depois desse encontro .
Estávamos adormecidos e nos acordaram , estávamos escuros e nos acenderam , estávamos tristes e nos encantaram , e tudo o que no secreto de nosso coração desejávamos era essa vinda .
E se comentassem que um dia isso ia acabar , diríamos : " Eu tenho de viver isso " .
E assim mais uma vez entramos no sortilégio .
Texto : LYA LUFT
Escritora gaúcha , do livro " Secreta Mirada "
Pesquisa e Título : Sandra Waihrich Tatit
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