Liberdade e Perfeição
Um dos maiores anseios do indivíduo e também da coletividade é a conquista da liberdade. Todos nós desejamos escapar da servidão à autoridade e dos entraves e limitaçõ es que a vida nos impõe. No fundo do ser existe um desejo incontido de liberdade sem freios e sem limites. É evidente que se isto fosse possível, o caos se instalaria pelo fato de entramos em rota de colisão com o nosso próximo que também procura a mesma coisa.
Este desejo é fruto do egoísmo expansionista do homem e da idéia que o próprio eu é o centro do universo. A Teoria da Queda desenvolvida por Ubaldi explica a origem deste egoísmo. A queda de um Sistema perfeito num sistema imperfeito (Anti-Sistema) foi devido a ampla liberdade de escolha que a criatura gozava no seio do Sistema. Aqui, deparamos com uma possível contradição: poderá existir liberdade dentro de um Sistema cuja característica principal é a PERFEIÇÃO? Explicamos: o que é perfeito por natureza não pode admitir a livre escolha, se assim fosse não seria perfeito. Ubaldi esclarece bem este ponto: "Compreende-se que a perfeição não pode deixar de ser determinística, no sentido de que só o melhor absoluto pode ocorrer. Tal é o sistema incorrupto dos espíritos que não erraram e não caíram. Pode, pois, deste ponto de vista, parecer mesmo que o arbítrio humano, além de ser um resíduo da liberdade originária, seja um produto da queda, visto que a escolha significa uma incerteza e uma procura do melhor absoluto, que se perdeu e ainda não foi reconquistado. (P. Ubaldi - Deus e Universo)"
Após afirmar que o arbítrio humano significa uma incerteza, Ubaldi sinaliza que a evolução nos levará — após a reconquista da perfeição original, — a uma situação determinística. Mas estranhamente fala também em liberdade originária. Como conciliar, então, determinismo com liberdade no seio de um Sistema perfeito? Como é exercida a liberdade dentro de um sistema em que o melhor absoluto já está fixado na natureza própria do Sistema?
Como vivemos no Anti-Sistema, isto é, num universo imperfeito, somos incapazes de formular uma resposta direta para estas questões já que ignoramos o que seja perfeição. Nossa mente só raciocina em função do contrastes entre dois termos de uma proposição. (Dialética Hegeliana). Como não conhecemos o segundo termo, isto é, o perfeito sistema absoluto, fica impossível respondê-las usando o instrumento da razão.
Existe, no entanto, um método, que embora não alcance total compreensão do problema, nos fornece uma aproximação, ainda que infinitamente distante da perfeição absoluta. Poderemos chegar a um entendimento relativo e progressivo se considerarmos que vivemos em um mundo onde tudo está em transformação, num eterno vir-a-ser. Nada permanece estático, o transformismo alcança todos os fenômenos, sejam eles materiais ou espirituais. Ontologicamente podemos dizer que o ser não é uma entidade completa e acabada, e sim que é um processo em evolução.
Evolução! Eis a palavra chave que sinalizará nosso caminho. Como tudo está evoluindo é possível encontrar no fio condutor do fenômeno evolutivo, as leis e princípios que regulam este transformismo e, a partir daí, descobrir a tendência do fenômeno e consequentemente seu telefinalismo.
Entretanto, precisamos compreender, antes de tudo, como se situa o fenômeno da liberdade dentro do processo evolutivo. Sabemos através de Ubaldi que a meta principal da evolução é a unificação em todos os campos. Essa unificação é regulada pela Lei das Unidades Coletivas:"Cada individualidade é composta de individualidades menores, que são agregados de individualidades ainda menores." O termo individualidade aqui deve ser entendido num sentido mais amplo, abarcando tudo o que existe, seja material ou espiritual. A liberdade do indivíduo, porém está limitada pela unidade maior: A liberdade está sempre enquadrada no determinismo da unidade superior, e que é livre somente enquanto é elemento inferior componente de uma outra unidade superior que, relativamente ao inferior é sempre determinista. Assim em toda UNIFICAÇÃO se verifica uma reordenação determinista.(P. Ubaldi - Problemas do Futuro).
Como existem infinitos planos evolutivos, podemos assim compreender que a liberdade relativa que o ser goza em cada nível evolutivo, progressivamente se transformará em um determinismo absoluto. Mas, perguntamos, não seria admissível que a liberdade que se perde a cada unificação não seja compensada, pela Lei do Equilíbrio, por outro tipo de liberdade? É conceito amplamente aceito que toda unificação traz consigo uma multiplicação de potencialidades, isto é, uma ampliação de poderes e do raio de ação da unidade maior: em um organismo o todo é maior que a soma de seus componentes elementares. O indivíduo, embora indiretamente, se vê de posse de uma liberdade maior do que a que possui isoladamente.
Como exemplo podemos comparar o grau de liberdade de que dispõe um selvagem com o de um cidadão de uma sociedade tecnológica e culturalmente avançada. O primeiro desfruta de sua liberdade conforme arbitra sua vontade individual, mas esta liberdade está sujeita a limitações impostas pelo ambiente e pela sua força individual. Já o segundo embora limitado pelas leis sociais vigentes no seu meio, possui através da união com outros indivíduos de uma liberdade e uma potencialidade muito maiores que as que dispõe o primeiro. Como são infinitos os planos evolutivos, esta liberdade progressivamente se dilatará de forma absoluta.
Fica claro, desta forma, que o enquadramento em uma unidade maior leva a uma transformação qualitativa da liberdade. Assim nada se perde. O determinismo, imposto pela unidade maior aos seus componentes elementares não traz um cerceamento a liberdade individual, o que ocorre é um reordenamento na interação entre os indivíduos. O livre enquadramento dos elementos singulares numa unidade orgânica maior - embora esta seja uma estrutura hierarquizada - amplia para cada indivíduo o espectro de suas escolhas. Isto se dá em virtude da retribuição gerada pelo caráter colaboracionista de cada ação interativa. Se multiplicarmos este ato, no seio de uma população de milhões de pessoas, será gerada uma imensa rede de ações e reações colaboracionistas. As potencialidades diretas e indiretas que advirão para cada indivíduo compensarão ao infinito o enquadramento na disciplina que rege o todo.
Assim a troca de uma liberdade-capricho por uma livre adesão a disciplina do todo produz, paradoxalmente, uma ampliação da liberdade individual. A expressão " livre adesão" é a chave para a criação de uma sociedade verdadeiramente orgânica e colaboracionista. A História nos mostra de sobejo o fracasso dos impérios criados pela imposição da força.
Desta forma se levarmos ao limite este progressivo enquadramento das unidades menores nas maiores, a tendência será, no final do ciclo evolutivo, o surgimento de um organismo absolutamente perfeito, em que a caótica liberdade separatista do Anti-Sistema se evoluirá para o determinismo do Sistema. Mas, em compensação, surgirá paulatinamente uma "liberdade-obediência" cada vez mais ampla, fruto da ampliação das potencialidades de cada individualidade ao se enquadrarem numa unidade superior.
No fundo, o fato pode ser explicado se consideremos os atributos que definem a individualidade no Sistema original: o egocentrismo e o amor. O egocentrismo subtende os conceitos de liberdade e de separação. Já o amor representa a união, é a força reequilibradora da unilateralidade do egocentrismo. A perfeição está, portanto, no equilíbrio entre estas duas forças opostas e complementares. No Anti-Sistema surgido após a queda houve a exacerbação de um dos atributos em prejuízo do outro, isto é, a preponderâ ncia do fator liberdade sobre o amor, advindo daí a fragmentação da Unidade maior em suas unidades componentes menores.
Vemos, assim, que a perfeição é o equilíbrio entre aspectos aparentemente contraditórios. Este equilíbrio foi rompido pela criatura usando a prerrogativa da sua liberdade em prejuízo do amor que cimentava o Sistema. Mas como a criação original era equilibrada por duas forças complementares o reequilíbrio tende a se restabelecer automaticamente (o que vem acontecendo por ação da evolução). É fácil agora entender a diferença entre "liberdade-capricho" própria do ser decaído e " liberdade-obediência" própria do Sistema perfeito. Em outras palavras: A "liberdade- incerteza", efeito da ignorância da criatura decaída se transformará na " liberdade-certeza" atributo da criatura perfeita. Desta forma podemos compreender o determinismo absoluto do Sistema como o exercício pela criatura de uma liberdade sem margens de erros.
Um dos maiores anseios do indivíduo e também da coletividade é a conquista da liberdade. Todos nós desejamos escapar da servidão à autoridade e dos entraves e limitaçõ es que a vida nos impõe. No fundo do ser existe um desejo incontido de liberdade sem freios e sem limites. É evidente que se isto fosse possível, o caos se instalaria pelo fato de entramos em rota de colisão com o nosso próximo que também procura a mesma coisa.
Este desejo é fruto do egoísmo expansionista do homem e da idéia que o próprio eu é o centro do universo. A Teoria da Queda desenvolvida por Ubaldi explica a origem deste egoísmo. A queda de um Sistema perfeito num sistema imperfeito (Anti-Sistema) foi devido a ampla liberdade de escolha que a criatura gozava no seio do Sistema. Aqui, deparamos com uma possível contradição: poderá existir liberdade dentro de um Sistema cuja característica principal é a PERFEIÇÃO? Explicamos: o que é perfeito por natureza não pode admitir a livre escolha, se assim fosse não seria perfeito. Ubaldi esclarece bem este ponto: "Compreende-se que a perfeição não pode deixar de ser determinística, no sentido de que só o melhor absoluto pode ocorrer. Tal é o sistema incorrupto dos espíritos que não erraram e não caíram. Pode, pois, deste ponto de vista, parecer mesmo que o arbítrio humano, além de ser um resíduo da liberdade originária, seja um produto da queda, visto que a escolha significa uma incerteza e uma procura do melhor absoluto, que se perdeu e ainda não foi reconquistado. (P. Ubaldi - Deus e Universo)"
Após afirmar que o arbítrio humano significa uma incerteza, Ubaldi sinaliza que a evolução nos levará — após a reconquista da perfeição original, — a uma situação determinística. Mas estranhamente fala também em liberdade originária. Como conciliar, então, determinismo com liberdade no seio de um Sistema perfeito? Como é exercida a liberdade dentro de um sistema em que o melhor absoluto já está fixado na natureza própria do Sistema?
Como vivemos no Anti-Sistema, isto é, num universo imperfeito, somos incapazes de formular uma resposta direta para estas questões já que ignoramos o que seja perfeição. Nossa mente só raciocina em função do contrastes entre dois termos de uma proposição. (Dialética Hegeliana). Como não conhecemos o segundo termo, isto é, o perfeito sistema absoluto, fica impossível respondê-las usando o instrumento da razão.
Existe, no entanto, um método, que embora não alcance total compreensão do problema, nos fornece uma aproximação, ainda que infinitamente distante da perfeição absoluta. Poderemos chegar a um entendimento relativo e progressivo se considerarmos que vivemos em um mundo onde tudo está em transformação, num eterno vir-a-ser. Nada permanece estático, o transformismo alcança todos os fenômenos, sejam eles materiais ou espirituais. Ontologicamente podemos dizer que o ser não é uma entidade completa e acabada, e sim que é um processo em evolução.
Evolução! Eis a palavra chave que sinalizará nosso caminho. Como tudo está evoluindo é possível encontrar no fio condutor do fenômeno evolutivo, as leis e princípios que regulam este transformismo e, a partir daí, descobrir a tendência do fenômeno e consequentemente seu telefinalismo.
Entretanto, precisamos compreender, antes de tudo, como se situa o fenômeno da liberdade dentro do processo evolutivo. Sabemos através de Ubaldi que a meta principal da evolução é a unificação em todos os campos. Essa unificação é regulada pela Lei das Unidades Coletivas:"Cada individualidade é composta de individualidades menores, que são agregados de individualidades ainda menores." O termo individualidade aqui deve ser entendido num sentido mais amplo, abarcando tudo o que existe, seja material ou espiritual. A liberdade do indivíduo, porém está limitada pela unidade maior: A liberdade está sempre enquadrada no determinismo da unidade superior, e que é livre somente enquanto é elemento inferior componente de uma outra unidade superior que, relativamente ao inferior é sempre determinista. Assim em toda UNIFICAÇÃO se verifica uma reordenação determinista.(P. Ubaldi - Problemas do Futuro).
Como existem infinitos planos evolutivos, podemos assim compreender que a liberdade relativa que o ser goza em cada nível evolutivo, progressivamente se transformará em um determinismo absoluto. Mas, perguntamos, não seria admissível que a liberdade que se perde a cada unificação não seja compensada, pela Lei do Equilíbrio, por outro tipo de liberdade? É conceito amplamente aceito que toda unificação traz consigo uma multiplicação de potencialidades, isto é, uma ampliação de poderes e do raio de ação da unidade maior: em um organismo o todo é maior que a soma de seus componentes elementares. O indivíduo, embora indiretamente, se vê de posse de uma liberdade maior do que a que possui isoladamente.
Como exemplo podemos comparar o grau de liberdade de que dispõe um selvagem com o de um cidadão de uma sociedade tecnológica e culturalmente avançada. O primeiro desfruta de sua liberdade conforme arbitra sua vontade individual, mas esta liberdade está sujeita a limitações impostas pelo ambiente e pela sua força individual. Já o segundo embora limitado pelas leis sociais vigentes no seu meio, possui através da união com outros indivíduos de uma liberdade e uma potencialidade muito maiores que as que dispõe o primeiro. Como são infinitos os planos evolutivos, esta liberdade progressivamente se dilatará de forma absoluta.
Fica claro, desta forma, que o enquadramento em uma unidade maior leva a uma transformação qualitativa da liberdade. Assim nada se perde. O determinismo, imposto pela unidade maior aos seus componentes elementares não traz um cerceamento a liberdade individual, o que ocorre é um reordenamento na interação entre os indivíduos. O livre enquadramento dos elementos singulares numa unidade orgânica maior - embora esta seja uma estrutura hierarquizada - amplia para cada indivíduo o espectro de suas escolhas. Isto se dá em virtude da retribuição gerada pelo caráter colaboracionista de cada ação interativa. Se multiplicarmos este ato, no seio de uma população de milhões de pessoas, será gerada uma imensa rede de ações e reações colaboracionistas. As potencialidades diretas e indiretas que advirão para cada indivíduo compensarão ao infinito o enquadramento na disciplina que rege o todo.
Assim a troca de uma liberdade-capricho por uma livre adesão a disciplina do todo produz, paradoxalmente, uma ampliação da liberdade individual. A expressão " livre adesão" é a chave para a criação de uma sociedade verdadeiramente orgânica e colaboracionista. A História nos mostra de sobejo o fracasso dos impérios criados pela imposição da força.
Desta forma se levarmos ao limite este progressivo enquadramento das unidades menores nas maiores, a tendência será, no final do ciclo evolutivo, o surgimento de um organismo absolutamente perfeito, em que a caótica liberdade separatista do Anti-Sistema se evoluirá para o determinismo do Sistema. Mas, em compensação, surgirá paulatinamente uma "liberdade-obediência" cada vez mais ampla, fruto da ampliação das potencialidades de cada individualidade ao se enquadrarem numa unidade superior.
No fundo, o fato pode ser explicado se consideremos os atributos que definem a individualidade no Sistema original: o egocentrismo e o amor. O egocentrismo subtende os conceitos de liberdade e de separação. Já o amor representa a união, é a força reequilibradora da unilateralidade do egocentrismo. A perfeição está, portanto, no equilíbrio entre estas duas forças opostas e complementares. No Anti-Sistema surgido após a queda houve a exacerbação de um dos atributos em prejuízo do outro, isto é, a preponderâ ncia do fator liberdade sobre o amor, advindo daí a fragmentação da Unidade maior em suas unidades componentes menores.
Vemos, assim, que a perfeição é o equilíbrio entre aspectos aparentemente contraditórios. Este equilíbrio foi rompido pela criatura usando a prerrogativa da sua liberdade em prejuízo do amor que cimentava o Sistema. Mas como a criação original era equilibrada por duas forças complementares o reequilíbrio tende a se restabelecer automaticamente (o que vem acontecendo por ação da evolução). É fácil agora entender a diferença entre "liberdade-capricho" própria do ser decaído e " liberdade-obediência" própria do Sistema perfeito. Em outras palavras: A "liberdade- incerteza", efeito da ignorância da criatura decaída se transformará na " liberdade-certeza" atributo da criatura perfeita. Desta forma podemos compreender o determinismo absoluto do Sistema como o exercício pela criatura de uma liberdade sem margens de erros.
Pedro Orlando Ribeiro
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